Quais os grandes desafios da indústria alimentar?

A indústria alimentar (humana e animal) enfrenta desafios que têm obrigado à sua reinvenção.

Num panorama mundial que se caracteriza por continuado crescimento populacional, procura por crescimento económico, movimentos populacionais para as cidades e um crescente desejo de globalização, é cada vez maior procura por alimentos de origem animal.

Para responder a esta procura, teremos necessariamente que aumentar os níveis de produção e produtividade, alterar estruturalmente a forma como criamos animais e desenvolver a capacidade para movimentar e comercializar animais e os seus produtos, tudo isto tendo em mente as preocupações com a sustentabilidade nos seus diferentes domínios – segurança alimentar (quantidade e qualidade), condições de vida, saúde e bem-estar animal e recursos, alterações climáticas e ambiente.

Segundo os números apontados pela FAO, a dimensão do desafio é imensa:

  • Nos próximos 50 anos será necessário produzir mais alimentos do que aqueles que foram produzidos na soma dos últimos 10.000 anos, de forma ambientalmente sustentável;

  • Até 2050 a população mundial consumirá mais 60-70% de proteína animal do que consome hoje

  • Com o conhecimento atual, não há alternativas viáveis à produção intensiva para abastecer a maioria dos alimentos de origem animal a uma população e cidades crescentes;

  • Pequenas quantidades de alimentos de origem animal podem melhorar a situação nutricional de famílias desfavorecidas. Carne, leite e ovos são fonte de proteínas com uma gama alargada de aminoácidos, bem como micronutrientes, como o ferro, zinco, vitamina A, vitamina B12 e cálcio, em que muitas populações desfavorecidas são deficitárias;

  • Cerca de 1/3 de todos os alimentos produzidos para alimentação humana perdem-se ou são desperdiçados, num total de cerca de 1,3 mil milhões de toneladas a nível global anualmente.

O que é a economia circular?

A economia circular, enquanto modelo de produção e consumo, preconiza a partilha, reutilização, reparação e reciclagem dos produtos existentes, para alargar ou modificar o seu prazo de vida, minimizando a necessidade de permanentemente explorar os recursos naturais finitos disponíveis.

O desenvolvimento de economias circulares, por contraponto a economias lineares, será a única forma de contornar de forma sustentável o aumento da população e da procura, evitando o esgotamento dos recursos naturais, além de poder ser igualmente um motor de desenvolvimento económico, de melhoria das condições de vida e de criação de mais emprego.

Como actuar para reduzir o impacto ambiental da produção animal?

No caso específico da alimentação animal, há múltiplas abordagens que podem ser adotadas para reduzir o seu impacto ambiental, contribuindo todas elas para endereçar o problema em diferentes etapas e dimensões do ciclo produtivo.

Na componente alimentar ou da dieta em particular, estão a ser dados passos em diversas direções, que se complementam para melhorar a alimentação animal:

  • Alimentação de precisão
  • Aumento da densidade energética das dietas
  • Utilização de suplementos que melhoram a qualidade e biodisponibilidade dos alimentos (enzimas, fitases, pré-bióticos, probióticos, leveduras, ácidos orgânicos, etc.)
  • Utilização de novas matérias-primas e subprodutos ou coprodutos da alimentação humana

A utilização de subprodutos e coprodutos da alimentação humana na alimentação animal

A indústria da alimentação animal é já hoje uma peça fundamental da economia circular.

Apesar de ainda existir uma dependência significativa dos cereais para a alimentação dos animais, cerca de 1/3 do consumo nacional de matérias-primas para o fabrico de alimentos compostos para animais corresponde a bagaços de oleaginosas e coprodutos das indústrias agroalimentares, o que se traduz anualmente no aproveitamento de 1,3 milhões de toneladas de “resíduos” que são transformados em alimentos de alto valor biológico para o ser humano e que, de outra forma, acabariam em aterros. A utilização destes produtos permite:

  • Aumentar a produção de carne, leite, ovos e outros produtos de origem animal (lã, curtumes, etc.);

  • Melhorar a economia das explorações pecuárias, em que a alimentação tem um peso significativo;

  • Melhorar, em termos sociais e económicos, a qualidade de vida das famílias, aumentando o número de postos de trabalho e rentabilizando o desperdício agroindustrial, com a inovação e criação de novos produtos.

Existe um esforço contínuo para estudar as propriedades nutricionais e químicas, bem como a eficiência na alimentação das várias espécies animais, associadas a estes produtos que “sobram” de outras atividades, estando sistematicamente a ser desenvolvidas novas aplicações que lhes dão uma 2ª vida.

A diversidade de coprodutos já utilizados na alimentação animal é notável:

Além destes, muitos outros coprodutos são já utilizados na alimentação animal, sendo expectável que a gama de matérias-primas disponíveis para alimentação animal continue a crescer nos próximos anos, à medida que novos processos, tecnologias e investigação abrem oportunidades para promover a economia circular.

No caso de Portugal estas oportunidades podem revelar-se particularmente importantes, por sermos um país extraordinariamente dependente de importações. O aproveitamento local de recursos poderá assumir um papel crucial na diversificação das nossas fontes alimentares e na nossa autonomia alimentar, contribuindo igualmente para reduzir o transporte de matérias-primas de outras partes do globo, com os custos ambientais que lhe estão associados.